Baiano diz que encontrou Cunha mais de 10 vezes



A Câmara registrou nove visitas de Baiano (foto), algumas dias antes de receber pagamentos de Julio Camargo que seriam divididos com Cunha ( Foto: folhapress )
Brasília. O lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, afirmou em depoimento ao Conselho de Ética ontem que esteve pessoalmente com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), "mais de dez vezes", incluindo em seu gabinete no Congresso, em sua casa, no Rio de Janeiro, e no escritório político no Rio.
Baiano foi ouvido como testemunha do processo de cassação de Cunha e confirmou os depoimentos de sua delação premiada. Afirmou que pediu ajuda de Cunha para cobrar a dívida de uma propina devida pelo lobista Julio Camargo e que entregou cerca de R$ 4 milhões em espécie no escritório do peemedebista no Rio.
A propina de Julio Camargo era por contratos obtidos junto à diretoria Internacional da Petrobras, com intermédio de Fernando Baiano.
O lobista relatou ter conhecido Cunha em 2009, por meio de um amigo em comum durante um café da manhã no Rio de Janeiro, e que se aproximaram após isso. "A primeira vez que eu vim, que eu fiz essa aproximação com o deputado, eu fiz essa visita a ele no gabinete dele (na Câmara)", contou.
Questionado sobre a casa de Eduardo Cunha, ele descreveu como eram os encontros no local: "Você passou pela porta principal, tinha logo uma porta à esquerda que era o escritório dele. Todas as vezes a gente conversava nesse escritório".
Sobre o fato específico analisado pelo Conselho de Ética, a acusação de que Cunha mentiu aos pares ao dizer não possuir contas no exterior, já que foram descobertas quatro contas bancárias ligadas a ele na Suíça, Baiano disse não ter informações. "Relativo a esse assunto (as contas no exterior), não fiz nenhum pagamento. Foi sempre em espécie", afirmou, ao ser questionado pelo relator do processo de cassação de Cunha, Marcos Rogério (DEM-RO).
A Câmara registrou nove visitas de Fernando Baiano entre 2005 e 2014, algumas delas dias antes de receber os pagamentos de Julio Camargo que seriam divididos com Eduardo Cunha.
Idas a gabinete
Questionado sobre as visitas ao gabinete de Cunha no Congresso, ele respondeu: "Talvez duas, três vezes". Pelo relato, o deputado Julio Delgado (PSB-MG) afirmou que ficou configurada mais uma mentira do peemedebista no depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, porque Cunha havia dito que nunca recebeu Baiano em sua casa. O lobista afirmou que, ao pedir ajuda de Cunha na cobrança da dívida de Julio Camargo, não especificou ao deputado que se tratava de propina.
"Eu falei que nunca tratei com o deputado Eduardo Cunha falando esse termo 'propina'. Agora que é propina é", disse.
Corrupção de políticos
No depoimento, o lobista chegou a pedir um aparte para comentar que a corrupção partia sempre dos políticos, e não dos empresários. "Os pleitos sempre vinham dos políticos, utilizando os agentes públicos colocados por eles nas agências públicas".
A defesa de Cunha tem negado as acusações de Baiano. Afirma que ele não recebeu propina por contratos da Petrobras e que não ajudou na cobrança de Julio Camargo. O advogado do peemedebista, Marcelo Nobre, contestou as declarações do lobista a respeito do pagamento de propina, alegando que as acusações não tem a ver com o processo em tramitação no Conselho de Ética, que apura se o presidente da Câmara quebrou o decoro parlamentar ao afirmar não ter contas no exterior.
Celeridade
Cunha reclamou ontem do que ele chamou de "celeridade" dos dois inquéritos para investigá-lo que tiveram a abertura autorizada na segunda-feira (25) pelo Supremo Tribunal Federal. O peemedebista disse serem "impressionantes" tanto a "celeridade" quanto a "seletividade" nos processos que o envolvem.
O teor dos novos inquéritos não foi divulgado porque tramitam em segredo de Justiça. A autorização para abertura foi dada pelo ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava-Jato no Supremo. Com a decisão, chegaram a cinco o número de procedimentos sobre o peemedebista em andamento na Corte.
Petição
A organização internacional Avaaz entregou ontem, ao Conselho de Ética da Câmara um documento com 1,3 milhão de assinaturas pedindo a cassação de Cunha. O ato foi marcado por uma confusão entre o deputado Laerte Bessa (PR-DF), membros do colegiado, como Alessandro Molon (Rede-RJ) e Chico Alencar (PSOL-RJ), representantes da entidade e manifestantes.

DN