Sobral reinaugura o Museu Madi após anos fechado


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O prédio foi inundado na última cheia do Rio, em 2009, quando a estrutura teve toda a parte elétrica danificada, assim como as paredes, portas de vidro, iluminação, sistema de vedação e arquivos ( Fotos: Marcelino Júnior )
Sobral. Localizado às margens do Rio Acaraú, no importante complexo turístico da "Margem Esquerda", da cidade de Sobral, no Norte do Ceará, o Museu Madi retorna com toda a sua força, depois de sete anos fechado. O prédio foi inundado na última cheia do Rio, em 2009, quando a estrutura teve toda a parte elétrica danificada, assim como as paredes, portas de vidro, iluminação, sistema de vedação e arquivos. O que resistiu mesmo, à enxurrada, foi apenas a armação de concreto e ferro, que volta a abrigar as obras. O espaço permaneceu sem atividade ao longo desses anos, à espera de sua reinauguração, ocorrida na última quinta-feira (29).

Inaugurado em 2005, o museu é o único, no País, dedicado ao Movimento Madi, mobilização artística iniciada em 1946 na Argentina pelo húngaro Gyula Kosice, escultor e poeta radicado naquele País, que propôs, juntamente com o uruguaio Carmelo Arden Quin, reunir, num só espaço, todos os ramos da arte, como desenho, pintura, escultura, música, literatura, teatro, arquitetura, dança e outros.
A ideia foi montar uma base extrema dentro dos conceitos de criação e invenção, com o intuito de liberar a criação artística das limitações "externas" ao próprio trabalho e expandir sem limites todas as possibilidades que possam surgir a partir da continuidade da obra de arte. Entre os artistas que compõem o Movimento Madi estão ainda Rhod Rothfuss, Martín Blaszko, Waldo Longo, Juan Bay, Esteban Eitler, Diyi Laañ, Valdo Wellington, entre outros.
Único na América Latina
O Movimento Madi chegou a influenciar artistas brasileiros, como Lígia Clark e Hélio Oiticica. O acervo de Sobral reúne quase cem obras, doadas por 58 artistas do mundo inteiro, que desconstruíram a forma tradicional da arte geométrica, fugindo dos ângulos retos; o que mantém a proposta de movimento, abstração, dimensão e invenção. O Museu de Sobral é único na América Latina. Outros são encontrados apenas no Norte da Europa, Estados Unidos e Argentina. Após a enchente, algumas coleções de obras foram guardadas, e outras foram mantidas à visitação pública dentro da Casa da Cultura.
Restauração
Quanto ao tempo de demora na entrega do prédio restaurado, que custou ao Município cerca de R$ 200 mil, segundo Roberto Galvão, presidente do Instituto ECOA, que passa a administrar o importante equipamento, "o Município recebeu a sinalização do Governo Federal no apoio à construção de um novo prédio para acolher a coleção do Madi, mas, nos últimos meses, se chegou à conclusão de que esse dinheiro talvez não venha. Então, resolvemos iniciar as obras de restauração do prédio, que retorna, no próximo ano, ao seu pleno funcionamento" disse.
Roberto Galvão ainda reforçou: "Sobral volta a figurar num circuito cultural e internacional muito significativo para a cultura e educação da comunidade, já que possui uma essência pedagógica", finalizou.
A professora Maria Ana Rabelo, acredita que o retorno do Museu vai ajudar os alunos a se aproximarem mais da arte, em todas as suas representações.
"Esse espaço, com certeza, tem um peso, não apenas na formação de público, mas também no que se refere à questão pedagógica de nossos alunos. Temos muito a aprender com todo o acervo que volta à Margem Esquerda".
Assim como a professora, o corretor Francisco Alves Rodrigues, também acha o retorno do Museu importante para o conhecimento das novas gerações. "Eu acho que Sobral se torna única, no momento em que disponibiliza esse importante espaço de arquitetura arrojada, que abriga essas obras tão únicas", disse o corretor sobre o prédio, que ainda não tem agenda para visitação pública.
Importância
O artista plástico Ed Ferrera concorda com o que diz o corretor e ressalta. "O Madi é uma das representações mais importantes da América Latina para a história da arte universal, ainda mais em um Município do Semiárido cearense que se preocupa com uma formação em arte. Quando essas obras de arte contemporâneas retornam para seu espaço, numa ambientação que valoriza cada peça, elas crescem em importância e significação, já que recebe de volta 100% de sua integralidade", reforçou o artista.

DN