Profetas acreditam em bom inverno


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Os profetas levaram provas colhidas no campo durante o trabalho de pesquisa e levantamento de suas previsões ( Foto: José Avelino Neto )
Quixadá. O ano de 2017 deverá ser de um bom inverno. Entre poucas discordâncias, essa foi a conclusão praticamente unânime dos participantes da 21ª edição do encontro dos Profetas das Chuvas. O evento aconteceu no último sábado (14), neste Município, no auditório do campus do Instituto Federal do Ceará (IFCE). O público em Quixadá ficou bem abaixo da expectativa inicial: apenas cerca de 600 pessoas, para mil que eram esperadas. De acordo com a organização, cerca de 21 profetas participaram do encontro. Para mais da metade deles, a tendência é que o ano atual apresente chuvas dentro da média histórica.
Venerados como mestres da sabedoria popular, os prognósticos dos profetas deixaram o público esperançoso. O agricultor José Leônidas dos Santos, 81 anos, ficou alegre ao ouvir que poderá ter um ano mais tranquilo depois de amargar prejuízo por três anos seguidos no campo. "É aquilo que eu digo: ninguém vai conseguir passar por mais um ano de seca. Eu só espero que eles estejam certos e que Deus possa olhar pela gente. Não podemos desprezar a sabedoria deste povo".
Pesquisa
Os profetas levaram provas colhidas no campo durante o trabalho de pesquisa e levantamento de suas previsões. Bagaço do formigueiro, a tábua do Juá, a carnaúba, a flor do mandacaru, e até experiências mais avançadas, como a demonstração do percurso da estrela D'alva e uma tabela com a contabilidade dos dias do ano em que houve registros de fatos que assinalam para a expectativa de ano chuvoso.
"Não vai ser um ano de inverno ruim. Vamos ter um ano de chuvas moderadas, em que vai dar para salvar pelo menos os criadores do campo", revelou a profeta Lourdinha Leite, 79 anos, a única mulher do grupo. Ela observou a cajarana e o cumaru, e chegou à conclusão que o ano reserva uma tendência a registrar chuvas dentro da média. "O inverno deve ser de bom a moderado. Ruim como esse não vai ser não", disse.
Importantes órgãos do Governo do Estado na elaboração de estratégias de convivência com a seca, como a Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) e Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), participaram do encontro. O presidente da Cogerh, João Lúcio Farias, foi o homenageado do ano.
Hélder Cortez, organizador do encontro, avalia que a edição deste ano foi uma das melhores. Ele detalha que ainda há melhorias a serem feitas, mas pondera que a disseminação da cultura da sabedoria popular tem se perpetuado com ainda mais força, graças ao evento.
"Precisamos estar sempre dispostos a continuar com este trabalho para que a cultura popular não se acabe. Hoje, temos profetas que repassam para seus netos, para seus filhos, mas muitos vão estudar em Fortaleza e a coisa estanca. Corremos um risco de excluir essa cultura e o Encontro tem o papel de disseminar".
Cultura
O titular da SDA, Dedé Teixeira, destacou a importância do evento para o fortalecimento da cultura do nordestino. Teixeira complementou afirmando que a pasta está atenta para o caso de mais um ano de estiagem prolongada no Ceará. Iniciativas e obras continuaram a ser desenvolvidas no Semiárido.
"Nós estamos vivendo há cinco anos uma estiagem prolongada e isso dificulta enormemente as atividades do nosso meio rural, das nossas populações, da nossa produção e desenvolvimento. É muito significativo negativamente para o Ceará, e os profetas tem um significado expressivo na vontade do cearense que é ter um bom inverno. É algo que devemos preservar e fortalecer", destacou Dedé Teixeira
"Elas podem errar, claro. Mas o que a gente não pode, é deixar um negócio tão bonito que é esse encontro, que representa a força de nossas raízes, de nossos costumes, morrer por conta da ciência. Eles com as deles, nós com as nossas", concluiu Hélder Cortez.
Presença
600 pessoas compareceram ao encontro realizado no município de Quixadá, número aquém do aguardado pelos organizadores do evento