Rodrigo Maia deve se lançar como pré-candidato do DEM à Presidência em fevereiro

Evaristo Sa/AFP


O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (RJ), deve se lançar oficialmente como pré-candidato à Presidência da República na próxima convenção do DEM, marcada para 28 de fevereiro.
 
A confirmação de que o deputado fluminense vai concorrer ao Planalto foi feita na quarta-feira (10/1) pelo prefeito de Salvador, ACM Neto, que será presidente nacional do DEM a partir de fevereiro, e reforçada pelo líder da legenda na Câmara, Efraim Filho (PB), no mesmo dia.
 
Em busca de apoio para conquistar a faixa presidencial, Maia tem conversado com PP, Solidariedade, PSD, PR, PRB, PSDB e MDB.
  

O nome de Maia é "ideal e legítimo", nas palavras de Efraim Filho, mas só será oficializado após o encontro do partido, quando todos os integrantes terão a chance de se posicionar.
 
"O grande trunfo que temos é a coesão interna. Diferentemente de outros, como o PSDB, o DEM levará um candidato de consenso à corrida eleitoral", afirmou ao Correio o líder do partido, lembrando que os tucanos até hoje divergem entre Fernando Henrique Cardoso e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, como a melhor escolha para representá-los.
 
"Maia acompanha todos os desdobramentos e entende que a candidatura dele não é de um nome, mas de um conceito. A ideia é ter alguém de centro, agregador, que seja capaz de unificar o país e atravessar esse clima de instabilidade", disse Efraim. 

 
Hartung cotado para vice 

 
Na quarta-feira, ACM Neto apontou, inclusive, o provável vice da chapa: o governador capixaba Paulo Hartung (MDB). Nesse dia, Maia, ACM Neto e Hartung se encontraram em Vitória (ES), para uma cerimônia de recebimento por parte do estado de quase R$ 100 milhões em investimentos nas áreas de educação, e aproveitaram para discutir o cenário para as eleições.
 
Como esperado de um presidenciável, Maia discursou durante o evento. Disse que tem ido muito ao estado por considerar que o governo local "tem sido inspiração" para o que ele tenta produzir na Câmara, que seria "uma agenda racional, uma agenda em que a gente fala a verdade, onde a gente quer um Estado que gaste menos, mas que onde gaste, gaste de verdade para transformar a vida das nossas famílias e das nossas crianças".
 

Disputa interna

 
Ao oficializar a candidatura, Maia se colocará como concorrente do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a nome da centro-direita na disputa pela cadeira hoje ocupada por Michel Temer. Com o ministro já há meses de olho no posto, e o atual ocupante do cobiçado cargo preocupado em reverter os baixos índices de popularidade, o presidente da Câmara tem assumido o vácuo governamental para definir uma agenda para o país.
 
Maia abraçou o papel de estadista que o alto escalão do Executivo deixou livre. Agora, falta saber se conseguirá acrescentar à campanha a pauta da reforma da Previdência, cuja paternidade também tem disputado com Meirelles.

Nas últimas semanas, o deputado tem estado mais engajado que o próprio ministro na agenda reformista, segundo avaliação até de membros da equipe econômica. "Esse tema só não morreu ainda graças a ele", afirmou uma fonte a par das negociações. Como presidente da Câmara, o papel de Maia poderia se restringir a algo simplesmente operacional, de pautar ou não a matéria. Mas, na prática, o parlamentar tem se envolvido pessoalmente nas negociações. Além de promover a articulação política, ele entra em contato com a equipe econômica praticamente todos os dias, seja para tirar dúvidas sobre o texto ou para discutir eventuais aprimoramentos, e está sempre em contato com especialistas no tema. 

Já Meirelles, em algum nível, tem até dificultado a aprovação. A proximidade das eleições sempre foi uma ameaça ao andamento da matéria, pelo medo que os deputados têm de perder o apoio do eleitorado se votarem a favor do texto. Mas a candidatura do ministro amplia a dificuldade e atrapalha a bandeira reformista que ele pretende levantar nas eleições. Quando Meirelles se declara candidato, os partidos que também estão de olho no centrão para emplacar os próprios candidatos, como o PSDB, acabam criando resistência em aprovar a reforma, para que essa vitória não cacife o concorrente. "Se Meirelles não tivesse se mostrado presidenciável, a reforma teria mais chances de ter passado. Esse foi um obstáculo", acredita o consultor de orçamento da Câmara Leonardo Rolim, especialista em Previdência.

O cientista político Murillo de Aragão, presidente da Arko Advice, acredita que a candidatura do ministro pode "atrapalhar um pouco" o andamento da reforma, mas entende que mesmo a aprovação do texto talvez não seja suficiente para que ele tenha uma candidatura de sucesso. Na opinião do coordenador do Núcleo de Análise Política da Prospectiva, Thiago Vidal, "ele precisaria de uma cereja no bolo, e a Previdência não é. Primeiro porque não é estrutural, e segundo porque é insuficiente. O próximo presidente terá que mexer nisso novamente", explicou.
CB