Adolescente especial sofreu abuso sexual dentro de escola municipal de Sobral







A direção da escola não quis colaborar na identificação do acusado, revelou a família da vítima.


"O homem de cabelo branco e óculos me levava para um bequinho dentro da escola, me oferecia lanche e pedia para ver minhas partes”. Contou o adolescente de 13 anos. O caso foi descoberto no último dia 10 de junho, depois que o adolescente chegou da escola apresentando comportamento alterado e um cheiro estranho, notado pelo tio. O garoto que apresenta retardo mental, segundo seus parentes, cursava o 7º ano do ensino fundamental II. A escola Raul Monte fica localizada no bairro Alto da Brasília e tem cerca de 700 alunos matriculados. Ela foi uma das quatro premiadas em junho de 2017, na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas - OBMEP 2017. Os pais do garoto não permitem mais que ele volte para a estudar até que o caso seja esclarecido.


A família decidiu procurar o Conselho Tutelar, depois de comunicar o caso a escola. MS foi levado para uma unidade do CRAS, o adolescente foi atendido por uma Assistente Social e confirmou tudo que havia relatado para o tio. A direção da escola se negou a colaborar no sentido de mostrar fotos dos funcionários para que o suspeito pudesse ser identificado, o Conselho Tutelar acompanhou o adolescente a Delegacia Municipal de Polícia Civil de Sobral, onde foi registrado um Boletim de Ocorrência, segundo relatou o tio.


Esse não foi o único caso de abuso sexual contra crianças da rede municipal de ensino em 2018. Segundo o Conselho Tutelar, outros supostos casos estão sendo investigados na escola Osmar de Sá Ponte, e também nas escolas dos distritos de Jaibaras e Aracatiaçu.




Caos no controle das denúncias


O Conselho Tutelar de Sobral não soube precisar para nossa reportagem quantos casos de abuso sexual contra crianças foram registrados pela entidade esse ano, mas disse que nem todos os casos que chegam primeiro ao conhecimento da polícia são comunicados ao órgão. Segundo matéria da BBC publicada em fevereiro deste ano, o controle de denúncias de violência sexual contra crianças é um caos no Brasil. Somente em 2016, 15,707 casos foram denunciados através do Disque 100. Ninguém sabe informar quantos casos foram investigados e ninguém garante que essas crianças estão seguras.


Segundo o SUS, 57% das vítimas de violência sexual que chegam aos hospitais tem de 0 a 14 anos. Só em 2016 13 mil foram atendidas em hospitais. Não há controle consistente e padronizado em nível federal, estadual ou municipal que acompanhe quantas eram procedentes, quantas se tornaram inquéritos policiais, quantas chegaram à Justiça ou o que aconteceu com as crianças. No Ceará, 218 homens foram presos em flagrante por estupro em 2017. Foram registrados uma média de quatro crimes sexuais por dia neste mesmo ano, os dados são da SSPDS e englobam os crimes de atentado violento ao pudor, estupro, estupro de vulnerável e exploração sexual de menor.


As crianças são as maiores vítimas de estupros no Brasil, segundo o Atlas da Violência de 2018. Para contextualizar o número, o Atlas da Violência apontou a taxa de subnotificação de casos dos Estados Unidos. Lá, apenas 15% dos estupros são de fato notificados à polícia. Se a taxa brasileira for próxima ao exemplo americano, significa que o país sofre com algo em torno de 400 mil estupros anuais.


Aqui no Ceará, a região Norte é a detentora do maior índice de estupros no interior do Estado, segundo a Secretaria de Segurança Pública. De janeiro até agosto do ano passado foram 117 casos registrados na Polícia. Os casos envolvendo políticos ou gente de alto poder econômico, geralmente caem no esquecimento, ou não são denunciadas e em alguns casos as vítimas são beneficiadas de alguma forma, para que permaneçam no silêncio.


Fonte: Wellington Macedo