Ataque a Jair Bolsonaro mancha campanha eleitoral






Após ser socorrido, candidato deu entrada na Santa Casa e foi submetido a uma cirurgia ( FOTO: ESTADÃO )


Juiz de Fora/Brasília. Após sofrer uma facada na altura do abdome durante ato da campanha eleitoral em Juiz de Fora (MG), o presidenciável Jair Bolsonaro, de 63 anos, "corre risco de vida", avaliou, no final da noite de ontem, o médico Glaucio Souza, um dos cirurgiões que operou o candidato do PSL. O atentado foi repudiado pelo presidente Michel Temer e pelos demais candidatos. O ministro da Segurança Pública, Raúl Jungmann, pediu um reforço da Polícia Federal na segurança dos postulantes ao Palácio do Planalto e uma investigação rigorosa.


"Ele está numa situação grave e corre risco de vida, mas tem tudo para sair bem. O prognóstico é muito bom. A expectativa de recuperação é boa. Ele está consciente e já conversou com os filhos. A cirurgia foi muito bem-sucedida", afirmou Souza.

Bolsonaro permanecerá no hospital de Juiz de Fora. A equipe médica avaliou o tempo de convalescença de oito a dez dias. Ontem, não havia condições para transferir o militar reformado para um hospital em São Paulo.

O candidato deu entrada no hospital às 15h40 com hemorragia interna, três perfurações no intestino delgado, uma lesão grave no intestino grosso e outra em uma veia do abdômen, informaram os médicos da Santa Casa de Juiz de Fora, precisando que as lesões foram identificadas e tratadas durante a operação. O boletim acrescenta que Bolsonaro também foi submetido a uma colostomia temporária.

O fato deixou mais imprevisível a eleição deste ano, acrescentando nova variável na disputa , segundo analistas. O atentado seria capaz de mudar os rumos da corrida eleitoral restando menos de um mês para o primeiro turno. A dúvida agora passa a ser quanto ao tempo de recuperação física de Bolsonaro.


Bolsonaro chegou ao hospital em estado de choque, com a pressão muito baixa. Ele sofreu três perfurações no intestino delgado, que foram suturadas, e uma lesão grave no intestino grosso, que foi retirado, em parte. O candidato chegou a perder três litros de sangue.

Pacientes com lesões como a de Bolsonaro levam de um a dois meses para retomar as atividades normais, segundo cirurgiões do aparelho digestivo.

"As lesões colocaram em risco a vida do paciente. O quadro é naturalmente grave, pela magnitude do traumatismo, mas ele está estável", afirmou o cirurgião Luiz Henrique, da equipe da Santa Casa de Juiz de Fora.

Bolsonaro estava, no final da noite de ontem, internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em observação. Os médicos disseram ainda que não há previsão de alta, tampouco de possibilidade de retomada da campanha nas ruas.

'A mando de Deus'

Líder nas pesquisas de intenção de votos, Bolsonaro era carregado na região central da cidade quando foi golpeado por seu agressor, identificado como Adélio Bispo de Oliveira, de 40 anos, que foi preso. O candidato sofreu um único golpe de faca.

Oliveira, segundo os policiais militares que o prenderam, afirmou que planejou o ataque contra Bolsonaro. Segundo o Boletim de Ocorrência (BO), ele disse que saiu de casa com a faca para atacar o candidato do PSL "no melhor momento que encontrasse". O ataque, segundo ele, se deu "por motivos pessoais" que os policiais "não entenderiam". Disse ainda que fez tudo "a mando de Deus".

A Polícia Civil de Minas informou que um "provável" segundo suspeito de participação no atentado contra Bolsonaro em Juiz de Fora foi detido. O suspeito, que não teve a identificação revelada, foi encaminhado à Polícia Federal em Juiz de Fora.

Em seu perfil do Facebook, Oliveira publicava mensagens críticas a Bolsonaro e se mostrou alinhado aos partidos de esquerda e ao governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Ele foi filiado ao PSOL em Uberaba (MG) entre 2007 e 2014. O PSOL repudiou o atentado e pediu às autoridades que tomem "todas as medidas pertinentes contra o autor" do ataque.

Investigação

À espera de notícias sobre o estado de saúde de Bolsonaro, apoiadores do candidato se concentraram na porta da Santa Casa assim que souberam que estava na unidade. Muitos usavam camisas pretas com a imagem do presidenciável e carregavam bandeiras do Brasil.

A Polícia Federal instaurou inquérito para investigar o ataque. Para a Polícia Militar, o ataque ao deputado foi premeditado. Os policiais estão atrás de telefones celulares, documentos ou qualquer outra pista.

O governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), afirmou que Oliveira não "parecia um sujeito equilibrado". "Colocamos todo o aparato de segurança do Estado à disposição para elucidar o caso", disse ao Estado.

Um dos coordenadores políticos da campanha de Bolsonaro, o deputado federal Delegado Francischini (PSL-PR) disse que vai entrar com representação na PF para que seja investigada a possibilidade de o atentado contra o candidato do PSL ser um "crime político". "Queremos saber se tem alguém acima desse cara, alguém que o induziu".

DN