Ciro Gomes e Haddad devem intensificar a disputa no NE








00:00 · 15.09.2018 / atualizado às 00:19


Ao analisar a última pesquisa do Datafolha, cientista política Monalisa Soares, da UFC, destacou o avanço de Fernando Haddad no Nordeste ( FOTO: ARQUIVO PESSOAL )

São Paulo. Após a pesquisa do instituto Datafolha, divulgada na sexta, apontar um empate numérico entre Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT) -ambos aparecem com 13%, atrás de Jair Bolsonaro (PSL), líder com 26%, analistas políticos ouvidos pela reportagem esperam uma maior disputa dos presidenciáveis pelo eleitorado nordestino nas próximas semanas.

Ciro e Haddad empatam, no plano nacional, porém, o candidato petista superou o pedetista numericamente quando se consideram os eleitores pesquisados na Região Nordeste. Haddad obteve 20%, e o candidato do PDT obteve 18%, o que caracteriza um empate técnico, já que a margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.



Para a professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), a cientista política Monalisa Soares, a transferência de votos de Lula para Haddad já está acontecendo e deve ser ainda maior.

"O crescimento de Haddad é fundamentalmente nesse eleitorado, historicamente lulista. Não foi por acaso que as primeiras triagens do Haddad, enquanto ainda vice do Lula, foram para o Nordeste, e boa parte do investimento político do horário eleitoral é para fazer essa relação do Haddad com o Lula, considerando que esse eleitorado está no Nordeste", observou Soares.

Já o cientista político Carlos Ranulfo, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), vê favoritismo de Haddad contra Ciro para ser o representante da esquerda no segundo turno. E chama atenção para a dificuldade de Alckmin se apresentar como opção de voto útil antipetista se não começar a crescer.

"O Haddad está crescendo dentro do eleitorado lulista e ainda há espaço para avançar nesse segmento. Assim, parece provável um segundo turno entre Haddad e Bolsonaro. O Alckmin precisa crescer em São Paulo, seu estado e onde Bolsonaro está na frente. Se ele não crescer, seu próprio discurso pelo voto útil perde credibilidade, pois quem está caindo não recebe voto útil", analisou Ranulfo.

No último levantamento do Datafolha, Geraldo Alckmin (PSDB) obteve 9% das intenções dos votos, redução de um ponto.

Queda de Marina

Já o desempenho de Marina caiu pela metade nas últimas três pesquisas Datafolha: começou com 16%, foi a 11% e chegou a 8%, saindo, pelo menos momentaneamente, da briga pela vaga em aberto no segundo turno.

Marina disse que a pesquisa é um "retrato momentâneo das candidaturas em disputa numa eleição que é a mais incerta de nossa história recente".

"Seguiremos percorrendo o Brasil e vamos mostrar aos eleitores que existe, sim, uma candidatura capaz de fazer um governo de transição e ficha limpa, encerrar o ciclo de polarização e ódio que assola o País e reconduzir nossa economia ao caminho do crescimento, com sustentabilidade, ética e competência", comentou Marina, na nota.

Bolsonaro

Já o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, permanece na frente da corrida presidencial, agora com 26% das intenções de voto, segundo o Datafolha. Analistas e estrategistas do mercado brasileiro debatem as consequências eleitorais do estado de saúde de Bolsonaro, que pode ter dificuldades de voltar para a campanha mesmo para a disputa de um eventual segundo turno.

A fragilidade do candidato após a facada também é vista como um ponto que seria explorado pelo opositor, em um cenário que vem remontando a morte repentina de Tancredo Neves depois do período do regime militar (1964-1985).

O presidenciável, que segue internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e está há mais de uma semana sem fazer campanha, oscilou dois pontos para cima, dentro da margem de erro, na comparação com o levantamento divulgado no início da semana.

"Bolsonaro parece ter votos para ir para o segundo turno sem fazer campanha, mas a dúvida é se vai conseguir fazer alguma coisa no segundo turno", disse Tony Volpon, economista-chefe do banco de investimentos UBS.

O estrategista acrescentou que o mercado começa a dar sinais de que vai abandonar Alckmin, até então considerado o mais comprometido com as reformas para a economia, mas que patina nas pesquisas.

"O mercado só enxerga Bolsonaro e Haddad", disse Robert Awerianow, especialista em câmbio da Frente Corretora.

Ciro

Em segundo lugar, empatado com Haddad, o pedetista se manteve estável na última pesquisa. Para a professora da UFC, o crescimento de Ciro acontecia enquanto não havia um candidato do PT indicado por Lula.

"Ciro crescia enquanto se tinha um movimento ainda de não identificação desse clássico eleitorado Lulista. Quando você retirava o Lula das pesquisas, quem geralmente crescia nessa faixa do eleitorado do Nordeste era o Ciro, porque ele está apresentando um projeto mais parecido com o do Lula e porque é representante político com carreira construída no Nordeste. Então, ele tinha toda essa vantagem de estar em extrema exposição sem tem nenhum concorrência direta quando se retirava o Lula", explicou Soares, do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia da UFC.

Rejeição

Bolsonaro liderou as taxas de rejeição na pesquisa Datafolha: 44% dos eleitores dizem que não votarão nele de jeito nenhum. Nas simulações de segundo turno, o candidato do PSL perde para Marina e Ciro (43% a 39% e 45% a 38%, respectivamente), mas empata tecnicamente com Haddad (41% a 40% para Bolsonaro) e com Alckmin. Na pesquisa do Datafolha, votos brancos e nulos oscilaram de 15% para 13%. Não souberam ou não opinaram passaram de 7% para 6%. "O eleitor vai mudar de opinião até o dia das eleições, mesmo aqueles que dizem que não vão mudar de opinião", alertou o especialista em marketing eleitoral Victor Trujillo.

DN