Nova política da Petrobrás altera preços da gasolina em até 15 dias



O especialista Bruno Iughetti diz que a mudança veio em boa hora, tornando possível o planejamento do mercado

Fortaleza/São Paulo. Após uma sequência de aumentos iniciada no dia 18 de agosto elevar em 12% o valor da gasolina nas refinarias, a Petrobras anunciou, ontem (6), mudança que permitirá a manutenção de preços estáveis por até 15 dias. Os repasses diários continuam permitidos e os valores permanecem acompanhando as cotações internacionais do petróleo e as variações do dólar, mas agora a área comercial pode propor períodos sem reajustes.



O objetivo, segundo a estatal, é suavizar o repasse das volatilidades aos seus clientes - a empresa pode propor a pausa nos reajustes quando entender que o mercado está sendo pressionado por razões externas, como desastres naturais ou choques cambiais, razão do ciclo de alta atual. Desde julho de 2017, a área comercial da Petrobras é autorizada a promover reajustes diários nos preços da gasolina.

As mudanças não vão interferir no tamanho dos reajustes que a estatal vai aplicar daqui para frente. As altas da commodity no mercado internacional continuarão sendo repassadas aos clientes, só mudam os prazos. Portanto, o consumidor continuará pagando nos postos um valor equivalente ao cobrado no mercado internacional, mas vai sentir menos esse repasse, porque só vão acontecer de tempos em tempos, dentro do limite de 15 dias.

"O resultado final não vai ser alterado. Se subir 13% neste período (em que os repasses estiverem represados), no final vai ter 13% de aumento", afirmou o diretor de refino e gás da estatal, Jorge Celestino. Para evitar prejuízos, a empresa recorrerá a instrumentos financeiros de proteção: a compra de derivativos de gasolina na Bolsa de Nova York, que serão vendidos após o reajuste, e o hedge cambial no Brasil.

Com os derivativos, se previne das oscilações de preços do combustível enquanto mantém os seus preços inalterados. Assim, ainda que perca dinheiro por alguns dias por não reajustar a gasolina enquanto a commodity sobe no mercado externo, ganha com os derivativos na mesma proporção. No final das contas, o saldo entre perdas e ganhos é nulo, e o cliente é beneficiado por não ter que lidar com as variações diárias do preço.

Planejamento era afetado

Para Bruno Iughetti, especialista em petróleo e energia, a mudança se fazia necessária. "Embora correta a política de preços, a periodicidade diária (dos reajustes) afetava o planejamento da cadeia de distribuição, culminando no impacto da revenda. Ficava extremamente difícil um acompanhamento efetivo dos preços", diz, destacando que a mudança veio em "boa hora".

Para o especialista, o ideal é que esse período chegasse a ser de até 30 dias, levando em consideração todos os fatores que influenciam na precificação do combustível hoje, para proporcionar ainda mais estabilidade ao planejamento da cadeia produtiva do setor. "Mesmo esse, esses 15 dias já atendem uma parte dessa expectativa para que o mercado se planeje com uma oscilação em um espaço de tempo maior", aponta.

Iughetti ressalta que a saúde do caixa da estatal não corre riscos com a volatilidade que aconteça nesse prazo, uma vez que as variações acumuladas no período continuarão sendo repassadas depois. "É uma engenharia muito bem desenhada. A Petrobras vai ter um colchão - chamado tecnicamente de hedge cambial - que suporta a volatilidade nesse prazo de tempo", argumenta o especialista.

Sindipostos

A medida também foi recebida com otimismo pelo assessor econômico do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado do Ceará (Sindipostos), Antônio José Costa. "Quanto menos (vezes) subir o preço da gasolina, melhor. Essa garantia de 15 dias, pelo menos, é melhor do que como tem sido, com reajustes frequentes. É a famosa estabilidade econômica", aponta.

Revisões

Esta é a terceira alteração da Petrobras na sua política de reajuste do preço da gasolina desde que passou a acompanhar o mercado internacional, em outubro de 2016. As revisões frequentes dos preços motivaram a paralisação dos caminhoneiros no fim de maio deste ano. Em meio aos desgastes políticos da greve, o então presidente da estatal, Pedro Parente, pediu demissão e foi substituído pelo diretor Financeiro, Ivan Monteiro.

Questionados se a utilização das novas ferramentas financeiras está relacionada à proximidade das eleições e aos rumores de nova paralisação dos caminhoneiros, os diretores da estatal não chegaram a negar, mas afirmaram que a medida já vinha sendo analisada há muito tempo. "Estudamos e vimos que o uso dessa ferramenta traz os elementos que vão dar boa posição competitiva para a Petrobras", argumentou Celestino.

Mecanismo utilizado

Na nova política, a Petrobras usará um mecanismo conhecido como hedge (ou proteção, em inglês). O hedge é um contrato financeiro que dá o direito de comprar ou vender um ativo no futuro por um valor combinado previamente. É uma espécie de seguro que protege a empresa de bruscas variações do mercado, muito usado por empresas que têm custos ou receitas em moeda estrangeira.

No caso da Petrobras, ele será aplicado sobre as cotações da gasolina no mercado futuro dos Estados Unidos.

Opinião do especialista

Impacto ao consumidor será Mantido

O que se reclama normalmente, o consumidor em especial, é que logo que a Petrobras anuncia a majoração do preço, ela é percebida nas bombas. Mas quando faz redução, ela não é percebida, não chega ao consumidor final. Com esse movimento de oscilação constante, fica mais difícil promover o acompanhamento, a fiscalização efetiva. Essa nova decisão da empresa é estratégica. E a Petrobras não disse que não fará alterações diárias, elas poderão ocorrer. Não acredito que essa mudança pontual vá acarretar em algo positivo para o consumidor, no preço que ele paga no valor final do combustível. Os postos têm reclamado de margem de lucro apertada, tributação pesada, e a dinâmica de preços estrangulou a margem de lucro. Não acredito em redução no preço.

Leonardo Leal
Presidente da Comissão de Defesa da Concorrência da OAB-CE