"Muito pra contar" canta cearense intérprete de Tim Maia ao vencer a Covid-19 em Sobral





Legenda: Com 61 anos, o Chico do Nordeste, como ficou conhecido após "bastimo" de Luiz Gonzaga, o cantor encontrou uma nova história para repassar a quem o escuta.
Foto: Arquivo Pessoal



“Ah! Se o mundo inteiro me pudesse ouvir. Tenho muito pra contar. Dizer que aprendi”, os primeiros versos da música marcante do cantor e compositor carioca Tim Maia, já acompanham há muito o crateuense Francisco Bezerra Sampaio, de 61 anos, conhecido no Estado por fazer shows interpretando Tim Maia. A partir de agora, no entanto, os versos que ganham força na voz do Chico do Nordeste - como Luiz Gonzaga o "batizou", conhecido por interpretar o cantor carioca - , se completam em sua própria história de vida e superação.






Apresentando quadro de hipertensão, diabetes e obesidade, comorbidades que dificultam o tratamento contra a Covid-19, Chico passou oito dias internado, com coronavírus, em um hospital de Sobral, onde tem familiares, e respirando com a ajuda de aparelhos. Mas, nesta quinta-feira (18), recebeu alta médica após vencer a doença.



“O corpo ainda tá fraco, mas vou continuar. Esse sentimento que você tem quando passa por uma experiência desastrosa, é difícil. As pessoas não têm ideia do que é estar dentro disso e conseguir sair”, conta Chico.



Ele deixou o Hospital Dr. Estevam, na região Norte, na manhã de ontem (18), com aquilo que não poderia faltar: música. “Trago dentro do meu peito uma estação de luz, seu nome é Jesus”, cantou o cearense, emocionado. “Isso é um privilégio de Deus. Uma vida dada de novo, sem nenhuma cobrança, para quem esteve à beira da morte”, disse Chico à reportagem, na manhã de hoje, já sob os cuidados da filha, Maria Auxiliadora.



“Quantos passaram e não voltaram? Serei testemunha permanente”, conta o intérprete.






Legenda: Chico do Nordeste, como é conhecido o cearense, passou oito dias internado em um hospital de Sobral com Covid-19, respirando com a ajuda de aparelhos. Nesta sexta-feira (18), recebeu alta médica após vencer a doença.
Foto: Arquivo Pessoal


“Dores contínuas”

Segundo a filha do crateuense, o pai deu entrada na unidade hospitalar na última quinta-feira (11), após apresentar sintomas. “Ficou no leito de enfermaria durante oito dias, sete no oxigênio”, lembra. “Ele mora em Fortaleza e sua companheira testou positivo primeiro. Veio para cá, mas já sintomático. A gente procurou o atendimento no posto de saúde e o médico avaliou a situação e fez o encaminhamento no mesmo dia”.

Por conta do histórico de saúde do pai, os cuidados estão sendo redobrados. "A gente sabe que é um fator de risco [a obesidade]. Quando ele teve alta, ontem, recebeu a recomendação da nutricionista do hospital [para equilibrar a alimentação]. Como família, essa questão do excesso de peso é uma preocupação constante nossa", comenta.

Do tempo que ficou ficou internado, Chico recorda momentos difíceis, nos quais se apegou à fé para superar os desafios diários.



“As dores são de rotina. Ficam ali o tempo todo. A experiência me deixava a certeza de que eu estava o tempo todo atento, firme de que aquele oxigênio era necessário. Às vezes, tirava para saber que precisava daquilo. Se eu tivesse que dizer alguma coisa a respeito dos médicos, dos enfermeiros, dos funcionários do hospital, seria que todos eles foram a representação de Deus, que segurava minha mão para não me deixar partir”, recorda, emocionado.



Na última terça-feira (16), após a banda da cidade levar um pouco de conforto sob a forma de música aos profissionais e pacientes internados no hospital, o sentimento de gratidão ficou evidente. Com uma ‘palhinha’ com direito a adaptação da letra clássica de Tim Maia, Chico do Nordeste agradeceu aos profissionais que cuidaram dele. “Tenho muito pra contar, dizer que vou sair daqui de pé”, cantou.



“Muito obrigado. Sei que ainda vou ter mais alguns momentos com vocês. Que Deus pegue nas mãos de vocês e seja um escudo de fé”, disse, na ocasião.






Legenda: Mesmo não precisando ser entubado, o intérprete passou oito dias internado em um leito de enfermaria, sendo sete respirando com a ajuda de aparelhos.
Foto: Arquivo Pessoal



Hoje, se recuperando ao lado dos filhos Maria, Dayvid e Daykendal, o intérprete mantém a certeza de que as histórias contadas a partir de agora jamais serão as mesmas. “Não faço prognóstico nenhum. Meus filhos estão comigo nesse instante e eu sabia [quando deixei o hospital] que estava recomeçando. Estou muito debilitado e agora vou me preparar para a obra. A música vem depois, mas nunca mais será a mesma".



"A partir dos momentos que vivi, saio com novos valores. Não preciso mais de dinheiro ou de um show para sobreviver. Preciso ter uma história bonita para cantar sobre aquilo que vivi”.


Sobral

Segundo a Plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde (Seduc) do Estado, atualizada às 9h59 desta sexta-feira (19), o município de Sobral já contabiliza 4.900 casos confirmados da doença, sendo a segunda cidade do Estado com maior número de infectados. Além disso, já são 188 óbitos causados pelo novo coronavírus e 3.756 pessoas recuperadas. Por conta da alta incidência da Covid-19 na região Norte, Sobral iniciou, ontem (18), a pesquisa estadual sobre impacto do novo coronavírus.

DN