Contas de Cunha na Suíça tem cerca de US$ 5 mi


(E. Cunha)
Fontes próximas às investigações envolvendo os dois países indicam que os documentos enviados ao Brasil apontam que valores em nome do deputado e de seus familiares foram congelados ( FOTO: FÁBIO RODRIGUES POZZEBOM/ AÊNCIA BRASIL )
Brasília. A Suíça congelou perto de US$ 5 milhões em ativos em nome do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e de seus parentes. Uma auditoria interna do banco que guarda esses valores, cuja identificação não foi divulgada, foi responsável pelo informe que levou à abertura de ação criminal no país europeu por suspeita de lavagem de dinheiro. Essa investigação foi enviada na quarta-feira pelo Ministério Público suíço à Procuradoria-Geral da República no Brasil.


A instituição financeira entregou aos procuradores da Suíça, em abril de 2015, um informe em que apontava para as irregularidades e fazia duas constatações: Cunha havia criado uma estrutura para tentar esconder seu nome da conta e a renda movimentada era muito superior ao que o peemedebista havia declaro como salário.
O alerta deu um início a uma investigação formal, que resultou em um congelamento dos ativos de Cunha e de parentes em diversas contas. "O Escritório do Procurador-Geral da Suíça confirma que abriu um processo criminal contra Eduardo Cunha sob a base de suspeita de lavagem de dinheiro, ampliando em sequência para corrupção passiva", indicou o MP suíço.
"Em abril de 2015, a Procuradoria recebeu um informe de lavagem de dinheiro por um banco suíço", confirmou o escritório do procurador Michael Lauber.
A Suíça investiga pagamentos relacionados à Petrobras desde março de 2014, quando foi deflagrada no Brasil a Operação Lava-Jato. Durante meses, o Ministério Público suíço pediu que bancos entregassem à Justiça detalhes sobre dezenas de contas. Até agora, mais de 300 já foram identificadas e bloqueadas.
No caso de Eduardo Cunha, a confirmação veio justamente do informe de um banco. "Depois de abrir um processo, os ativos de Eduardo Cunha foram congelados", confirmaram as autoridades suíças.
Fontes próximas do caso indicam que os documentos enviados ao Brasil apontam para cerca de US$ 5 milhões congelados em nome do deputado e de seus familiares, em diferentes contas e com diferentes ativos. Mas o MP suíço prefere não divulgar o valor oficialmente.
Os suíços passaram a examinar com cuidado os dados dos depósitos depois que ficou claro que Cunha aparecia como "beneficiário" de uma conta apontada pelo banco como "suspeita". Segundo investigadores suíços, a manobra é normalmente usada por quem tenta esconder algo, seja da Justiça ou de algum ator exterior.
O banco também encontrou "disparidades" entre a renda do deputado declarada e os valores transferidos, além de registrar que parte dos depósitos vinham de contas que já estavam sendo rastreadas.
Sob pressão da Justiça, mais de 30 bancos suíços passaram a colaborar desde meados de 2014 no caso, entre eles o Julius Baer Pictet, Cramer, HSBC e outros de grande porte. A Suíça chegou a alertar que o "caso Petrobras" teve um importante impacto na praça financeira suíça e revelou a fragilidade dos controles dos bancos em identificar a origem do dinheiro.
Berna também indica que decidiu transferir a investigação sobre o caso para o Brasil, sob justificativa de que não faria sentido manter a ação diante da impossibilidade de pedir a extradição do brasileiro. Mas insiste que a meta da transferência do caso é a de permitir que o deputado seja investigado e julgado no Brasil.
"Achaque"
O ex-ministro da Educação Cid Gomes voltou a acusar Eduardo Cunha (PMDB-RJ) de praticar "achaque".
A acusação foi feita em publicação no Facebook, ontem, na qual o político cearense destaca nota do Ministério Público Federal (MPF) confirmando o recebimento dos autos da investigação contra o peemedebista por suspeita de lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Os documentos foram enviados pelo Ministério Público da Suíça.
"Ontem (quarta), 30 de setembro, foi uma data histórica para a Política do Brasil - assim mesmo, com P maiúsculo: começa a cair a máscara daquele que representa, com toda desenvoltura, o ACHAQUE em nosso País", escreveu Cid.
O ex-governador cearense se referia à notícia de que o MP suíço relatou contas bancárias com cerca de US$ 5 milhões em nome do presidente da Câmara e de familiares dele.
O ataque de Cid vem menos de um mês após o político cearense ter sido condenado a pagar R$ 50 mil de indenização por danos morais a Cunha por ter afirmado, durante seminário na Universidade Federal do Pará (UFPA), que na Câmara havia uns "400, 300 achacadores".
A fala foi confirmada por Cid Gomes no plenário da Casa em 18 de março de 2015. No mesmo dia, o ex-governador deixou o cargo de ministro da Educação.
Em julho deste ano, o ex-ministro também sugeriu, em postagem no Facebook, que também havia achacadores no Senado. "Os achacadores não estão só na Câmara dos Deputados!!", escreveu, citando reportagem sobre a nomeação do advogado Ricardo Fenelon Júnior, genro do líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), para a diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

DN