Veículos adulterados. 59 clonagens descobertas entre 2014 e 2015



O superintendente do Detran, Igor Ponte, afirma que a clonagem de veículos se viabiliza muito mais pela lavagem química de documentos (substâncias aplicadas apagam os dados na papelada dos veículos roubados) do que pelo furto aos formulários em branco de registro de veículos - como os nove furtos ocorridos na sede e em dois postos do órgão, entre 2013 e 2014.

Ele reconhece que os furtos ao Detran tiveram repercussão no mercado local, mas prefere apontar a fragilidade atual em se identificar um veículo. “Os veículos ainda são identificados com regras tecnológicas muito frágeis para a atual sofisticação das quadrilhas. Enquanto a segurança depender de papel e de uma impressão apagável, estaremos sujeitos a essas dificuldades”, diz Ponte. “Onde tem roubo de carro tem clonagem de veículos. É um problema nacional, não é só do Ceará”.

Em 2014, o Detran confirmou 48 casos de veículos clonados no Ceará. Este ano, até setembro, foram 11 casos. Igor Ponte diz não ser possível apontar quantos veículos circulem nessas condições. A descoberta do clone costuma se dar, na maioria das vezes, por multas não reconhecidas pelos proprietários verdadeiros. Os negócios informais de compra e venda, segundo ele, também aumentam o campo de atuação dos golpistas.

Fora do cofre

Na sindicância interna, sobre os 1.668 documentos furtados em 2013 e 2014, o Detran informa: “... não encontraram provas de participação de servidores públicos”. Acrescenta que “os vigilantes terceirizados do período da noite foram substituídos e instaladas câmeras de segurança na sala cofre que acondiciona os documentos”. Desde então, o Detran garante que nenhum novo incidente foi registrado.

À época dos furtos, na sala do Setor de Registro de Veículos trabalhavam três servidores do órgão e dois funcionários terceirizados. Além do pessoal da limpeza, que tinha acesso ao local no horário de expediente.

No segundo Boletim de Ocorrência, de março de 2014, assinado por um dos servidores do Setor, é descrito que até aquela época ainda não haviam sido instaladas as câmeras de monitoramento do local. Por email, o Detran detalhou que os pacotes com os formulários em branco sumiam “sem que fosse constatado arrombamento da porta ou alguma marca no forro ou nas paredes”. O furto só era notado na manhã do expediente seguinte.

Uma das respostas não dadas ao caso é saber por que, mesmo após os sucessivos furtos, as cédulas de registro de veículos não eram deixadas trancadas no cofre. Ficavam em pacotes apenas dentro da sala do cofre. O superintendente do Detran não descarta a facilitação.

Para conter o índice de clonagem, Igor Ponte diz que os Detrans de São Paulo, Paraná e Ceará já permitem às vítimas a troca de emplacamento, quando atestada a fraude. Até o final deste mês, segundo o superintendente, será disponibilizada no site do Detran-Ceará (www.detran.ce.gov.br) a verificação da validade da numeração de um documento de registro e licenciamento de veículo, sem precisar ir diretamente ao órgão.

A situação será útil para negociações de veículos usados. “O cidadão poderá conferir isso antes de iniciar qualquer processo de transferência, onde será identificado o documento inválido”, explicou por email. Nas blitze, a checagem de documentos, que era apenas visual, passou a também ser feita eletronicamente por tablets. (Cláudio Ribeiro e Demitri Túlio)