Previsão de chuva é boa, mas recarga preocupa



"Uma coisa é a chuva, outra coisa é ela se converter em aporte para os reservatórios". O alerta veio do titular da Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará (SRH), Francisco Teixeira, durante o anúncio do prognóstico para a quadra chuvosa no Estado pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). O órgão prevê uma probabilidade de 40% de chuvas acima da média no Ceará, entre fevereiro e abril, enquanto 35% das chances apontam para chuvas dentro da média normal, e 25%, abaixo dela. A perspectiva de recarga dos reservatórios cearenses, porém, é uma das maiores preocupações dos órgãos de gestão hídrica.

Isso porque, apesar de a Funceme reforçar "a incapacidade de dizer como será a distribuição das chuvas no tempo e no espaço dentro da estação chuvosa, a previsão para o próximo trimestre indica "chuvas irregulares" na região Sul do Estado. "Em termos de aporte, é bom que as chuvas sejam concentradas e de alta intensidade. A preocupação para o Centro-Sul cearense é que as chuvas devem ser em torno da normal, o que dificulta a recuperação de parte das bacias do Orós e do Castanhão", avalia o presidente da Funceme, Eduardo Sávio, projetando que o maior acúmulo de precipitações no Ceará, neste ano, deve ser no mês de março.



Conforme o prognóstico, a probabilidade de chuvas acima da média no Centro-Sul cearense é de apenas 20%, contra 45% dentro da normal e 35% abaixo. "É possível que um ou outro açude tenha aporte maior mas, infelizmente, reservatórios como Orós, Banabuiú e Castanhão, que têm muitos pequenos acima deles, têm dificuldade maior de recarga", afirma o titular da SRH, explicando que, após os seis anos seguidos de seca, "é preciso encher os pequenos e médios reservatórios para as águas chegarem aos grandes".

Para que a previsão positiva da quadra chuvosa no Ceará se concretize, um dos fatores climáticos pelos quais "devemos torcer", segundo explica Sávio, é por uma fraca ação dos ventos no Oceano Atlântico Sul Equatorial, a fim de manter as águas aquecidas. "Esse aquecimento é muito importante, porque a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), responsável pelas chuvas na nossa quadra, procura as zonas mais quentes do oceano e traz umidade para o continente, aumentando as precipitações". Atualmente, aponta o gestor, o Atlântico Sul "tem área de resfriamento superficial muito intenso", o que tornou as três primeiras semanas de janeiro mais secas. Segundo Sávio, a situação da pré-estação deve melhorar por volta do próximo dia 26, já que as condições dos oceanos têm demonstrado "tendência favorável para o Ceará".

Para Sávio, "nós temos uma La Niña fraca, estabelecida no Pacífico Equatorial, mas a previsão é de um rápido aquecimento dessas águas, que pode levar a uma normalidade no Estado, ainda na quadra chuvosa", conclui o presidente da Funceme, ressaltando, porém, que o El Niño, fenômeno que não favorece as precipitações no Nordeste, "está aumentando, e isso é uma preocupação para 2019".

Intensificadas

Segundo o governador do Ceará, Camilo Santana, mesmo que as previsões se mostrem positivas, as ações de contingência serão intensificadas em 2018, "utilizando todo o possível de reservatórios como alternativa de abastecimento do Estado". Um dos exemplos, aponta Santana, é o aproveitamento da barragem do Cocó, cuja viabilidade está sendo estudada pela Cagece.

O racionamento em Fortaleza e na Região Metropolitana (RMF), entretanto, foi descartado pelo administrador. "Ele só gera transtornos muito grandes à população e ao sistema de abastecimento. É possível que a gente perca mais água do que economize. E há, ainda, a questão de saúde pública, já que as pessoas passam a armazenar água em casa, gerando criadouros para o Aedes aegypti".

A implementação de um racionamento na Capital, declara, resultaria em uma economia anual de 21 milhões de m³ de água, enquanto o somatório das demais medidas - como utilização da reserva do Rio Maranguapinho, reúso de água na Estação de Tratamento (ETA) Gavião, aplicação da tarifa de contingência e corte de 70% da água para irrigação - culminou em uma economia de 157 milhões de m³ por ano, cerca de sete vezes superior a uma suposta suspensão fragmentada no abastecimento.

"Até que haja uma reversão do cenário, nós temos que continuar com a tarifa de contingência, acompanhar o uso nas residências e no Interior, para que a população use o menos de água possível", afirma o secretário de Recursos Hídricos do Estado.