Ceará é o 3º estado do Nordeste em número de candidatos ligados à segurança pública







Candidatos que se declaram policiais militares subiram de 11 para 19 em 2018. (Foto: Governo do Estado)

O Ceará é o terceiro estado do Nordeste em número de registros de candidatos que se declaram policiais (civis e militares), militares (ativos ou inativos) e bombeiro militar. De 2014 para 2018, segundo o Tribunal Superior Eleitoral(TSE), as candidaturas ligadas a forças de segurança tiveram aumento de 36%.

Os dados consideram os pedidos de candidaturas para todos os cargos em disputa no Estado – governador e vice, senador e suplente, deputado federal e estadual.

Em todo Brasil, há 1.186 candidatos ligados à área da segurança. Em 2014, o total foi de 1.044. O número final de candidatos pode ser diferente, já que todos ainda passam por análise da Justiça Eleitoral.

No Nordeste, o maior número de candidatos ligado às forças de seguranças foi em Pernambuco e na Bahia, 37 em ambos os estados. Em seguida, aparece o Ceará, com 34 candidaturas. Sergipe soma 33, seguido por 32 candidatos na Paraíba, 27 no Rio Grande do Norte, 21 no Piauí e no Maranhão e 15 em Alagoas.




Ceará

Entre as cinco ocupações ligadas à segurança pública, houve aumento de 73% no total de policiais civis e militares candidatos.



Em 2014, as maiores votações para deputado federal e estadual foram de nomes ligados à área: Capitão Wagner, hoje no Pros, teve maior número de votos para deputado estadual; e Moroni Torgan (DEM), delegado da Polícia Federal, foi o mais votado para a Câmara.

Em 2018, a tendência continua, com candidatos levando às urnas as patentes de cabo, sargento, coronel, major, dentre outras, ligadas ao nome.

Conforme os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Ceará tem um dos maiores índices de mortes violentas do Brasil. O cenário de insegurança se reflete na representação política, afirma o sociólogo e coordenador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV-UFC), César Barreira. No entanto, ele pontua que o eleitorado, ainda que seja atraído pelo discurso da segurança, percebe quando as propostas do candidato não vão além desse tema.


“Sabemos que a violência não pode ser combatida com violência”. (César Barreira)

Barreira lembra estudo que fez em 1999 sobre candidatos ligados a órgãos de segurança. O artigo questionava se a política é lugar de policial. “Na época, não era. Os candidatos não se elegiam só pelo fato da segurança. A maioria negava sua patente, eles não se apresentavam como policiais, com raríssimas exceções. Eles não se elegiam pelo fato de serem policiais, mas por terem prestado serviços comunitários”, ressalta.

Ele reconhece que, duas décadas depois, o cenário é outro. “A relação com a segurança passa a ser mais direta”, afirma, considerando também a presença da patente nos nomes usados nas urnas.

“Nesse clima de insegurança em que vivemos, há o outro lado de que as pessoas percebem que a prática do político não pode ser ligada só à área da segurança, mas existe um percentual muito mais alto (de pessoas ligadas à área)”, diz Barreira.

O sociólogo frisa que a violência cria o medo e o medo gera mais violência. Ele ressalta que o mais importante ao se considerar um representante político é observar propostas que trabalhem principalmente com questões de prevenção da violência, construções sociais alternativas.

“Sabemos que a violência não pode ser combatida com violência. Esses candidatos que se colocam na órbita da segurança têm de ter cuidado porque eles estão fazendo da violência um capital político, e nós temos é de combatê-la”, afirma.

Tribuna do Ceará