Presidenciáveis aumentam ataques






Brasília/Belo Horizonte. A substituição de Lula por Fernando Haddad como candidato do PT ao Palácio do Planalto, a melhoria no estado de saúde de Jair Bolsonaro (PSL) e a divulgação de duas pesquisas no início da semana levaram pelo menos cinco postulantes à Presidência da República e um candidato a vice a aumentar o tom dos ataques contra seus concorrentes.

Marina Silva (Rede), por exemplo, afirmou ontem, que o postulante do PT, Fernando Haddad, terá que responder "pelas coisas erradas" praticadas pela gestão da ex-presidente cassada Dilma Rousseff. Marina também disse que Haddad deverá explicar principalmente os casos de corrupção e o aumento do desemprego. Questionada sobre sua postura com relação ao líder nas pesquisas, ela lembrou do ataque sofrido por Bolsonaro para criticar a proposta de liberação do porte de armas, defendido pelo deputado federal.


"Esse ato violento e inaceitável desmoralizou a proposta de distribuição massiva de armas. Quem tem que proteger a sociedade é o Estado", disse Marina.

Já Ciro Gomes (PDT) disse que em caso de eleição de Bolsonaro, ele sairá da política e não integrará oposição a ele.

"(Se Bolsonaro ganhar) eu vou desejar boa sorte a ele, cumprimentá-lo pelo privilégio e depois eu vou chorar com a minha mãe. Eu saio da política. A minha razão de estar na política é amor, paixão, confiança. Se nosso povo por maioria não corresponder, vou chorar".

O pedetista fez ataques ainda mais contundentes contra o vice de Bolsonaro. "O general Mourão (vice de Bolsonaro) é um jumento de carga, que tem entrada no Exército. Quem manda nesse País é nosso povo. Tutela, sargentão dizendo que vai fazer isso e aquilo, comigo não acontecerá. Sob a ordem da Constituição, eu mando e eles obedecem. Quero as Forças Armadas poderosas, modernas, altivas".

Mourão respondeu as críticas de Ciro dizendo que o gesto reflete "desespero" e "falta de argumentos". "A baixaria desse nível não interessa a ninguém. Apenas a pessoas desesperadas, que não representam o pensamento nacional. Ofensas, partindo de Ciro Gomes, não têm relevância pra mim. Trata-se de alguém que, em um debate, não tem argumentos", respondeu o general por meio de sua assessoria.

Em sabatina, o pedetista foi questionado sobre sua relação com Lula e sobre por que ainda não foi visitá-lo na prisão.

"O Lula não é o satanás para mim, nem um deus. É um presidente que foi muito bom para o povo brasileiro e que merecidamente tem desse povo gratidão", disse Ciro. "Mas isso não deveria obrigar nenhum de nós a achar que Lula é infalível. Ele indicou Dilma, ele escolheu Temer, escolheu Haddad pra ser prefeito de São Paulo e ele (Haddad) perdeu no primeiro turno na reeleição. É para a gente pensar", acrescentou Ciro.

Guilherme Boulos (PSOL) também fez críticas a Haddad.

"Fiquei estarrecido de ver na semana passada o Fernando Haddad indo fazer beija-mão ao Renan Calheiros e ao Eunício Oliveira no Nordeste. Esse não é caminho. Essa turma representa o que há de mais podre na política brasileira", classificou.

Alvos

Um dos alvos preferenciais de seus adversários na disputa presidencial, Haddad defendeu, ontem, que o partido não errou ao esticar a corda antes de trocar Lula na chapa, mas que a decisão deixou seus adversários nervosos, que, segundo ele, estão "com medo de um vice".

"Aconteceu de um vice assumir a cabeça de chapa. Eles estão com medo de um vice? Mas não é só um vice, é um projeto", afirmou Haddad. "Não arriscamos nada, quem está do lado certo não arriscou nada. Ficar do lado de Lula até o final não é cálculo eleitoral ou algo, assim, menor", completou. Geraldo Alckmin (PSDB), por sua vez, em sua missão de capturar o voto antipetista, partiu para o ataque contra Haddad e Bolsonaro, em Betim (MG). "É inacreditável lançar candidatura na porta da penitenciária", afirmou sobre o anúncio da substituição de Lula por Haddad na porta da PF em Curitiba, onde Lula está preso.

Quanto ao candidato do PSL, Alckmin tentou vincular o voto em Bolsonaro no primeiro turno, a um posterior "risco" de fortalecimento do PT em um eventual segundo turno.

Análise

O poder de Lula sobre o eleitorado do PT, as frequentes visitas de Haddad a sua cela e o empenho da militância em recordar que "Lula é candidato com o nome de Haddad" têm levado muitos a questionar se o ex-prefeito não seria um fantoche do ex-presidente. "No primeiro turno Haddad será a voz de Lula para manter um eleitorado cativo, mas no segundo a tendência é que ganhe autonomia e mostre seu perfil mais moderado dentro do PT", disse Thomaz Favaro, analista da consultoria Control Risk. Especialmente se enfrentar Bolsonaro, pois terá de convencer os eleitores de centro-direita.

"Qualquer candidato que for eleito terá uma dificuldade enorme para governar. Haddad teria que encontrar um equilíbrio entre seu espírito mais conciliador e seu partido, que tem um programa mais radicalizado em relação às eleições passadas", disse.

Errata

Ciro Gomes aparece com 11% na última pesquisa do instituto Ibope, e não 22% como publicado erroneamente no quadro que acompanhou a reportagem da página 10 da edição impressa da última quarta-feira (12).