Manifestantes protestam contra o abate de jumentos em Fortaleza


Neste domingo, 30, manifestantes se reuniram na Av. Beira Mar, em Fortaleza, para protestar contra o abate de jumentos no Brasil. De acordo com o grupo, os animais estão sendo recolhidos por populares e vendidos de maneira ilegal para a produção de uma gelatina feita com o seu couro, chamada de Elijao. Tal produto é utilizado na medicina tradicional chinesa, porém, não há comprovação científica de sua eficácia. A prática já foi banida em diversos países da África e da América Latina por conta de casos de maus-tratos e abates irregulares que foram relatados. “Não iremos desistir de lutar por eles. Já estamos na quinta manifestação nacional lutando contra esse abate”, conta a ativista Stefanie Rodrigues, que é presidente da Organização Não Governamental (ONG) Anjos da Proteção Animal (Apa) e liderou o protesto na capital cearense.

Foto: Fernanda Leite

Rodrigues afirma que essa atividade é  lucrativa para um grupo seleto de empresários chineses. Pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) apontam que a população de jumentos tem declinado no Brasil. O IBGE divulgou que, em 2011, existiam aproximadamente 974 mil animais em todo o território nacional. Em 2017, o número já havia reduzido para cerca de 376 mil, o que indica uma queda de 38% em um período de seis anos. Para a FAO, a queda relatada foi de 28%. Os manifestantes ressaltaram ainda, que tais índices não contemplam mortes  que ocorrem durante o transporte e nem aquelas causadas por doenças, que juntas somariam cerca de 20% aos dados sobre abate. Para eles, a situação pode levar os jumentos à extinção. 

“Nosso maior objetivo é conscientizar as pessoas que eles são animais que também fazem parte da nossa vida. São importantes para a natureza e merecem viver como qualquer ser vivo […] Os animais não são apenas para servir o ser humano, essa é a mensagem que estamos querendo passar na manifestação”, explica Stefanie Rodrigues. A ativista também destaca a relevância simbólica do jumento para o Nordeste de maneira geral. “Os jumentos são animais resilientes e muito importantes para nós.  O animal é considerado sagrado porque carregou o Menino Jesus. Importantes artistas brasileiros como Luiz Gonzaga, Chico Buarque e Cândido Portinari já reconheceram estes animais em suas obras como pertencentes ao patrimônio cultural imaterial nacional”, pontua.

Atualmente, existe um  Projeto de Lei n. 1218/2019, de autoria do  deputado Ricardo Izar (PP-SP), que torna o jumento um patrimônio nacional e proíbe o seu abate em todo o território. A presidente da ONG defende que a aprovação da medida é fundamental para atender a demanda dos manifestantes e garantir a proteção da espécie. “A carne dele não serve para consumo e não interessa para os seres humanos. Então, abatê-los é perversidade, é maldade […] o que podemos fazer para evitar é ter a fiscalização correta e oferecer para esses animais a melhor vida possível porque eles merecem, são animais sofridos”, defende.

Além da questão dos maus-tratos, os manifestantes chamaram a atenção também para as consequências da negligência com os jumentos que estão ocorrendo sem vacinas e sem ter a atenção sanitária necessária. Os ativistas explicam que esses animais podem portar a doença mormo que, no passado, já colocou as autoridades da Agência de Defesa Agropecuária do Ceará em alerta devido a um surto que foi registrado no estado em 2012. Tal doença pode contaminar humanos. 

Além de Fortaleza, ao longo do domingo foram registrados atos pela causa em outras cidades do país como Aracaju, Florianópolis, Natal, Salvador, Recife, São Luís, Curitiba, Natal, São Luís, São Paulo e Rio de Janeiro.

Por Yasmim Rodrigues

O Estado

 

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